Ferramenta online desenvolvida
por jornalistas e cientistas expõe de forma clara e didática como o fogo e a
retirada ilegal de madeira contribuem para deixar a floresta morta (Fabio
Pontes - 21/06/2017). O processo de degradação da Amazônia a partir de agora
pode ser acompanhado por uma plataforma online. Por meio da Floresta
Silenciosa, o internauta tem uma noção de como essa destruição provocada pela
ação humana e às vezes natural vem comprometendo todo o equilíbrio do principal
bioma brasileiro. As análises são feitas a partir dos impactos nas florestas do
Pará.
O lançamento da Floresta
Silenciosa, idealizada pela startup de jornalismo Ambiental Media em parceria
com o InfoAmazônia, aconteceu na terça-feira (20) em São Paulo e foi
acompanhado pela Amazônia Real. Os dados foram levantados a partir dos estudos
de cientistas brasileiros e estrangeiros que integram a Rede Amazônia
Sustentável (RAS). O resultado da pesquisa foi publicado na revista “Nature”.
“A degradação é um assunto tão
pouco debatido e pouco explorado, por exemplo pela mídia, e gerar visualizações
de dados é uma forma de tornar isso mais palpável para as pessoas”, diz o
jornalista Thiago Medaglia, coordenador editorial da Floresta Silenciosa e
fundador da Ambiental Media.
A escolha de Floresta Silenciosa
para nomear a ferramenta se dá justamente por conta de um dos principais
impactos da degradação na Amazônia: a morte e a fuga de espécies animais
nativas daquela área atingida.
Se em florestas o som dos cantos
de aves e o sussurro dos mamíferos são a sinfonia da mata, em áreas degradadas
predomina quase o silêncio pela ausência destes animais.
“Quando a gente fala que a
floresta está lá, mas que ela está silenciosa, ou seja, que as espécies não
estão mais lá, outro processo que acontece é que espécies que não são da
floresta começam a invadi-la”, afirma Renata Pardini, do Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
Para medir os danos da
degradação, os cientistas elaboraram o Déficit de Valor de Conservação. Este
cálculo foi feito apenas em áreas do Pará, estado onde a Amazônia sofre com
pressões de atividades como a extração ilegal de madeira e o desmatamento para
se abrir pastos ou áreas de cultivo.
O fogo é uma das principais
formas de degradação das matas. Neste caso não são somente os grandes incêndios
florestais ou os usados após o desmate de uma área para limpá-la. O grande
problema são os “fogos rasteiros”, com alto potencial de destruição.
“Quando a gente pensa na Amazônia
pensamos no fogo para o desmatamento. Agora, o fogo que a gente está falando é
o fogo rasteiro. Ele vai ter, no máximo, 30, 40 centímetros a altura da chama,
mas que vai causar uma mortalidade tanto da fauna como da flora enorme”
ressalta Erika Berenguer, da Universidade de Lancaster, em Londres.
Em agosto de 2016 a Amazônia Real
visitou a fazenda Tanguro, em Mato Grosso, onde o Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (Ipam) desenvolve estudos práticos sobre o impacto das
queimadas no processo de degradação da floresta, e a sua difícil e lenta
regeneração.
Degradação: menos vida na
floresta
A retirada seletiva de árvores
num primeiro momento pode não representar grandes impactos, mas se ela ocorrer
de forma extensiva a floresta tende a perder sua capacidade de recuperação. A
abertura de grandes áreas no meio da floresta, chamadas de fragmentação, para a
extração madeireira clandestina é outro potencial de danos.
“A degradação é produto de uma
série de fatores Os fatores estão interagindo. A fragmentação da floresta cria
o efeito de borda. Por quilômetros aquela floresta vai estar sofrendo
influência dessa área que foi aberta. Entra mais luz, vai ressecar, o
microclima. Vai ser diferente, as espécies vão ser diferentes”, diz Joice
Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, no Pará, e uma das
coordenadoras da RAS.
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