Há cerca de um ano o tuxaua da aldeia
Cacoal, Carlos Barbosa Freire, perdeu esposa e filha. A primeira, vítima de
doença grave. A segunda, de complicações no parto. “Se elas tivessem sido
removidas a tempo, teriam chance de sobreviver!”, diz o tuxaua.
Os moradores de Cacoal são indígenas do
povo Maraguá. Esse povo vive em aldeias nos rios Abacaxis e Paracuni, na região
do rio Madeira, município de Nova Olinda do Norte - situado a 134 quilômetros
em linha reta de Manaus, a capital do Amazonas. Daquela aldeia até sede
municipal de Nova Olinda do Norte, em barco de 22 hp, a viagem demora até 16
horas.
Segundo Assessoria de Comunicação do
Conselho Indigenista Missionário (CIMI Regional Norte I - AM/RR) a filha do
tuxaua, Selma dos Santos Freire de 34 anos, em junho do ano passado, foi
transportada às pressas para Nova Olinda do Norte no fim da tarde numa viagem
que se estendeu até às dez horas do dia seguinte. “Quando chegou na cidade, ela
já estava morta”, relata o tuxaua Carlos.
Todos os Maraguá do rio Paracuni
padecem da falta de atendimento por parte do Distrito Sanitário Especial
Indígena (DSEI). O órgão não reconhece os Maraguá daquela localidade como
indígenas por falta do Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani).
O Rani é um documento administrativo
que deve ser fornecido pela FUNAI, conforme previsto pela Lei nº 6.001 de
19 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio). No entanto, a Coordenação
Técnica Local (CTL) da Funai em Nova Olinda do Norte não atende os Maraguá e
remete a solução para a Coordenação Regional, com sede em Manaus. O tuxaua
Carlos esteve várias vezes frente ao coordenador local em Nova Olinda do Norte,
Gilmar Palheta Assunção, que o orientou a comparecer ao escritório da CTL
munido de documentos pessoais e declaração de auto-reconhecimento. Porém, em
diversas ocasiões o tuxaua levou a documentação exigida e mesmo assim lhe foi
negado o Rani.
Temendo que outras pessoas venham a
falecer por falta de atendimento, lideranças das comunidades Tabocal, Cacoal,
Miriti, Fortaleza e Cawé protocolaram denúncia no Ministério Público Federal –
MPF. Na sede da Funai, em Manaus, eles foram informados que falta recursos para
deslocamento de servidores até as aldeias para que seja feito o devido
reconhecimento.
Invasões
Os representantes do povo Maraguá
também pediram ao MPF que intervenha junto aos órgãos de assistência aos
indígenas pela realização de fiscalização. Segundo denunciaram, o território
deles vem sendo constantemente invadido por madeireiros, pescadores, caçadores
que comercializam carne de animais silvestres, garimpeiros e de traficantes. Há
pelo menos dois anos não é realizada fiscalização na área.
Os indígenas já tentaram por conta
própria por fim às invasões, mas muitos foram ameaçados de morte, razão pela
qual eles esperam que a Funai e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis – Ibama, tenham atuação mais frequente e
eficiente.
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