Setecentos mil reais de faturamento, no mínimo, é o que esperam os
pescadores artesanais de Careiro da Várzea com a Pesca do Mapará 2018, evento
comercial de caráter comunitário que acontecerá no período de 16 a 19 de março
no Lago do Rei, um complexo lacustre formado por mais de 60 lagos de várzea e
que é uma das áreas de maior potencial piscoso do Amazonas.
A fase mais intensa da temporada de pesca do mapará no Lago do Rei é
bem curta porque logo os cardumes se dispersam e entram por áreas de difícil
acesso para os pescadores, tornando-se antieconômica em termos comerciais. E
abertura oficial da temporada ocorre sempre no dia 16 porque o defeso, período
de quatro meses iniciado em 15 de novembro em que fica proibida a pesca do
mapará e de outras espécies (pirarucu, tambaqui, matrinxã, pirapitinga,
sardinha, pacu e aruanã) para proteção da reprodução, termina exatamente no dia
15 de março.
A pesca do mapará no Lago do Rei, que até 2016 era desorganizada e
pouco rentável para os pescadores de Careiro da Várzea, ganhou nova perspectiva
a partir do ano passado, quando a Prefeitura Municipal começou a mobilizar as
comunidades daquele complexo de lagos e seu entorno para a discussão de um
acordo de pesca voltado para a proteção e preservação dos mananciais. “Foi algo
tão envolvente e com um grau de resposta tão positivo dos comunitários que, já
em 2017, foi possível dar uma nova dinâmica a essa pescaria, evitando-se a
invasão de barcos “estrangeiros”, a pesca predatória e outras práticas
danosas”, ressalta o secretário municipal de Meio Ambiente, Raimundo Passos.
Entre as decisões tomadas coletivamente pelos comunitários, após uma
série de reuniões nas principais localidades do complexo e de áreas vizinhas,
estavam as regras básicas para participação na pescaria, formas de evitar a
captura de peixes muito pequenos, quantidade máxima de malhadeiras por canoa e
preço mínimo para a venda direta a compradores que mobilizaram grandes
estruturas para efetuar a compra do pescado dentro do próprio lago.
“Mesmo sem termos chegado à formalização do acordo de pesca antes do
evento no ano passado, porque o tempo era muito curto para isso, as rodadas de
discussões permitiram a costura de um pré-acordo e o estabelecimento de regras
que geraram resultados bastante positivos”, explica o secretário municipal de
Pesca e Aquicultura, Aldo Procópio, segundo o qual chegou-se a mais de 140
toneladas de pescado e a quase R$ 500 mil injetados diretamente nas mãos dos
pescadores, sem qualquer tipo de intermediário.
Evolução
Já em 2018, as secretarias municipais de Meio Ambiente, de Pesca e
Aquicultura, de Turismo, de Desenvolvimento Sustentável e de Obras, Urbanismo e
Serviços Públicos, juntamente com as entidades representativas dos pescadores
(Associação, Colônia e Sindicato), membros do Legislativo Municipal, e técnicos
da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), realizaram novas reuniões e
estabeleceram regras complementares às de 2017, como uso de redes com malha
mínima de 45 mm entre nós opostos.
De acordo com o engenheiro de pesca João Bosco Silva, da SEMA, “o
tamanho da malha acordado pelos comunitários e representantes dos poderes
públicos para a pesca de 2018 é 5mm maior que a usada no ano passado, o que
proporcionará a captura de peixes maiores, uma vez que a seletividade das redes
é diretamente proporcional ao tamanho da malha e quanto maior a malha da rede,
mais seletiva ela será, de forma que a retenção de indivíduos de classes
etárias menores seja minimizada, contribuindo para a manutenção dos estoques da
espécie mapará”.
Sustentabilidade
A preservação do complexo do Lago do Rei, para o prefeito Ramiro
Gonçalves, além de uma questão de racionalidade, é um compromisso prioritário
de sua gestão, “em respeito à natureza e às gerações futuras, que têm o direito
de conhecer e usufruir dessas riquezas”.
A aposta da administração municipal nos acordos de pesca tem feito, de
fato, uma grande diferença na relação do homem com o meio ambiente no Careiro
da Várzea. Tanto que, apenas um ano após ter iniciado a condução das discussões
pró-acordos de pesca, o prefeito e sua equipe já contam com um acordo fechado e
pronto para homologação da SEMA. “É assim que vamos ajudando os cidadãos de
nosso município a abrirem seus olhos para uma nova e necessária realidade, que
é a da preservação, da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais”,
defende Ramiro Gonçalves.
A história
A importância do Lago do Rei para a pesca vem desde o século XVII
quando, em 1667, o local foi instituído como um dos pesqueiros reais da Coroa
Portuguesa e passou a ser reservado à captura de animais aquáticos,
principalmente peixes, para alimentar os militares e funcionários da Fazenda
Real. Sendo o nome do lago originário desse contexto histórico.
O peixe
Há mais de duas décadas, uma das atividades que tem se destacado no
Lago dos Reis é a pesca do mapará (Hypophthalmus spp.). Os maparás são bagres
de pequeno porte pertencentes à Ordem Siluriformes, família Hypophthalmidae e
gênero Hypophthalmus com três espécies (Hypophthalmus marginatus, H. fimbriatus
e H. edentatus) e encontradas nos rios Amazonas e seus afluentes.
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