O
Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas ingressou com dez novas ações de
improbidade administrativa na Justiça Federal contra o médico e empresário
Mouhamad Moustafa, outras nove pessoas e também seis empresas ligadas a ele,
por desvios milionários de recursos da saúde do Estado do Amazonas, em esquema
revelado pela operação Maus Caminhos. O MPF pede, nas ações, a
indisponibilidade de bens dos réus no valor total de R$ 46.676.274,15, para
garantir eventual reparação dos prejuízos causados ao patrimônio público caso
venham a ser condenados.
Por
meio de decisões liminares, a Justiça já determinou o bloqueio de mais de R$
5,7 milhões, em sete processos. Além de Mouhamad, são alvos das novas ações de
improbidade Priscila Marcolino Coutinho, Jennifer Naiyara Yochabel Rufino
Correa da Silva, Paulo Roberto Bernardi Galacio, Davi de Azevedo Flores,
Gilberto de Souza Aguiar, Erhard Lange, Pauline Azevedo Sá Campos, Márcia
Alessandra Silva do Nascimento, Pedro Osvaldo da Silva Rebelo e Priscila
Marcolino Coutinho, além das seis empresas utilizadas pelo grupo para praticar
os desvios e do Instituto Novos Caminhos (INC), principal destinatário de
recursos públicos da área de saúde do Estado no período investigado.
Nos
pedidos finais, baseados na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº
8.429/92), o MPF pede a condenação do grupo à devolução integral dos recursos
desviados, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
multa civil de até duas vezes o valor do recurso desviado, perda dos direitos
políticos, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais por
prazo de cinco anos.
Investigação
conjunta envolvendo o MPF, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia
Federal (PF) constatou que o grupo se uniu com a finalidade única de desviar
recursos públicos federais, destinados à saúde no Estado do Amazonas. Para
isso, atuaram como agentes para a contratação das empresas Salvare Serviços
Médicos, Total Saúde Serviços Médicos e Enfermagem, Sociedade Integrada Médica
Do Amazonas (Simea), D' Flores, Ita Serviços e Medimagem, por meio do Instituto
Novos Caminhos (INC).
Nas
ações, o MPF ressalta que, embora a contratação das empresas para o
fornecimento de serviços e materiais não fosse proibida, o grupo realizou
contratações diretas, sem prévio procedimento de seleção, desobedecendo os
critérios previstos pela Lei de Licitações de forma consciente, a fim de
viabilizar que membros da organização criminosa se passassem por legítimos
fornecedores e obtivessem para si parte dos valores superfaturados provenientes
de pagamentos do Estado.
As
ações seguem em tramitação na Justiça Federal (https://pje1g.trf1.jus.br/pje/ConsultaPublica/listView.seam).
Os números das ações para consulta processual na Justiça são:
1002241-35.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Priscila Coutinho, Davi de Azevedo
Flores e D'Flores (D. de Azevedo Flores – ME).
1002243-05.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad, Instituto
Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Erhard Lange e Ita Serviços.
1002246-57.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad, Instituto
Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Erhard Lange e Ita Serviços.
1002245-72.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Paulo Galácio, Jennifer Silva, Priscila Coutinho e
Gilberto de Souza Aguiar e Medimagem (Gilberto de Almeida Aguiar – EPP).
1002248-27.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Paulo Galácio, Jennifer Silva, Priscila Coutinho e
Gilberto de Souza Aguiar e Medimagem (Gilberto de Almeida Aguiar – EPP).
1002251-79.2018. 4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Pauline Campos,
Priscila Coutinho e Salvare Serviços Médicos Ltda.
1002258-71.2018. 4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Priscila Coutinho e
Salvare Serviços Médicos Ltda.
1002259-56.2018. 4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Márcia Alessandra
Silva do Nascimento, Pedro Osvaldo da Silva Rebelo, Priscila Coutinho e Salvare
Serviços Médicos Ltda.
1002260-41.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad, Instituto
Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Priscila Coutinho e Sociedade
Integrada Médica do Amazonas (Simea).
1002247-42.2018.4.01.3200 – Réus: Mouhamad Moustafa,
Instituto Novos Caminhos, Jennifer Silva, Paulo Galácio, Priscila Coutinho e
Total Saúde Serviços Médicos e Enfermagem Ltda.
Organização
criminosa – A denúncia criminal que acusa os envolvidos de integrar
organização criminosa foi apresentada pelo MPF em novembro de 2016, detalhando
a participação dos integrantes do esquema de corrupção. O processo principal
foi desmembrado pela Justiça, isolando a cúpula da organização em um
procedimento à parte, que tramita na 4ª Vara Federal do Amazonas, sob o número
0004109.20.17.401320-0, em fase de recurso.
Na
ação, os réus Mouhamad Moustafa, Priscila Marcolino Coutinho, Jennifer Naiyara
Yochabel Rufino Correa da Silva e Alessandro Viriato Pacheco foram condenados a
penas de prisão que, somadas, ultrapassam 36 anos. Além da prisão, as penas
incluem pagamento de multas milionárias e a perda de bens de alto valor
apreendidos quando a operação foi deflagrada.
Os
mesmos acusados também foram alvo – junto a outros participantes do esquema –
de dezenas de outras ações penais pelos crimes de contratação direta e peculato
e de ações de improbidade administrativa, que tramitam individualmente na
Justiça Federal.
Operação
Maus Caminhos – Deflagrada em setembro de 2016, a operação Maus Caminhos
desarticulou um grupo que possuía contratos firmados com o Governo do Estado
para a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, em Manaus;
da Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de
Reabilitação em Dependência Química (CRDQ) do Estado do Amazonas, em Rio Preto
da Eva. A gestão dessas unidades de saúde era feita pelo Instituto Novos
Caminhos.
Dos
quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de
Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de 250 milhões de reais
teriam sido destinados unicamente ao Instituto Novos Caminhos.
As
irregularidades foram comprovadas por meio de informações bancárias e fiscais e
conversas telefônicas, obtidas mediante ordem judicial, relatórios de órgãos de
fiscalização como o Ministério da Transparência, Controladoria-Geral da União e
Receita Federal, bem como documentos obtidos nas buscas e apreensões,
inquéritos policiais e outros documentos encontrados em fontes abertas.
Os
órgãos de fiscalização apuraram que os maiores fornecedores do Instituto Novos
Caminhos eram apenas três empresas: Salvare Serviços Médicos, Total Saúde
Serviços Médicos e Enfermagem e Sociedade Integrada Médica do Amazonas (Simea),
que faziam parte, na verdade, de um mesmo grupo econômico, comandado por
Mouhamad Moustafa.
A
investigação mostrou ainda a existência de um forte braço político do esquema,
também denunciado pelo MPF, envolvendo o ex-governador do Amazonas José Melo de
Oliveira e cinco ex-secretários. Os gestores públicos denunciados eram
diretamente beneficiados por meio de distribuição de propina e outras vantagens
provenientes dos desvios de verbas públicas coordenados pelo médico Mouhamad
Moustafa. O processo em que os agentes políticos são acusados de integrar a
organização criminosa está em fase de audiências de interrogatório de
testemunhas de acusação e de defesa e oitiva dos réus.
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