Município conta com atendimento precário e nenhuma unidade de saúde operante na área rural, onde vive quase metade da população
O Ministério Público Federal
(MPF) ajuizou ação civil pública para garantir atendimento adequado
de saúde básica no município de Guajará (a 1.494 quilômetros de Manaus). Na
ação, o MPF pede que a Justiça Federal determine à União e ao Município de
Guajará a apresentação de um plano para adequação do serviço, que inclua a
cobertura de atendimento a moradores da sede do município e da zona rural, no
prazo de seis meses.
O município de Guajará está
situado no extremo sul do Estado do Amazonas, com população de 16.339
habitantes, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Com mais de 7,5 mil quilômetros quadrados de área, o
município tem quase metade da população localizada na zona rural, em cerca de
90 comunidades de difícil acesso, tanto por via terrestre quanto fluvial.
Para o atendimento em saúde da
população, o município de Guajará conta com um hospital, três unidades de
atenção primária e um núcleo de apoio à saúde da família em funcionamento, com
cinco equipes de saúde da família que não atendem a área rural, segundo
informações prestadas pela própria prefeitura.
Apesar de ter quase a metade da
população na zona rural, os dois postos de atendimento à saúde instalados na
área estão inoperantes, conforme verificado por inspeções in loco realizadas
pelo MPF em 2015 e 2017, como parte do projeto MPF na Comunidade.
UBS sem equipe e sem insumos –
Em visita a Comunidade do Gama, distante cerca de 30 quilômetros da sede do município
de Guajará, em 2015, o MPF constatou que a unidade básica de saúde lá instalada
funcionava basicamente para o controle da malária, doença endêmica na região,
não possuindo insumos e equipe permanente com profissionais da saúde
habilitados para a realização de atendimentos primários aos mais de 400
comunitários.
A farmácia da unidade saúde,
durante a vistoria do MPF, estava vazia, sem insumos ou medicamentos primários.
Na ocasião, o órgão foi informado que a última remessa de medicamentos à comunidade
teria ocorrido em 2014. Na sala de atendimento odontológico, não havia material
ou equipamento, apenas a cadeira do dentista. Diante da ausência de
instrumentos para esterilização, os objetos utilizados em procedimentos eram
colocados em água fervendo, em panela comum, para desinfecção.
Em nova visita realizada em 2017,
o MPF identificou que a situação da saúde na comunidade permanecia a mesma.
Sendo obrigados a buscar as unidades de saúde da sede do município para
atendimento, os moradores da zona rural contam com apenas cinco senhas
destinadas ao grupo.
O MPF destaca, na ação, que “a
carência de atenção primária representa afronta a diversos direitos inerentes
ao mínimo existencial, à medida que o direito à saúde é pressuposto para acesso
a inúmeros outros direitos fundamentais e deve ser prestado em sua
integralidade, em todos os graus de complexidade que o Sistema Único de Saúde
alcança, a fim de garantir vida digna à universalidade de indivíduos em solo
nacional”.
Perante a Justiça, o MPF pede que
a União e o Município de Guajará sejam obrigados, com base em medida liminar, a
apresentar, no prazo de seis meses, um plano para a adequação do atendimento na
atenção primária na localidade, garantindo a cobertura na área rural do
município, com serviços que incluam atendimento das comunidades rurais de
Guajará de forma frequente e razoável. O plano deve conter informações sobre os
veículos e insumos que servirão aos atendimentos e sobre as principais
atividades preventivas e de acompanhamento que serão ofertadas.
A ação civil pública tramita na
3ª Vara Federal no Amazonas, sob o nº 1003319-64.2018.4.01.3200.
Recomendação descumprida –
Em 2016, o MPF expediu recomendação ao Município de Guajará para que garantisse
o atendimento contínuo da área rural com saúde básica, com apresentação de
cronograma com a indicação dos atendimentos que seriam realizados nas unidades
de saúde instaladas em sua área rural.
Apesar de ter apresentado
cronograma de visitas mensais, a prefeitura municipal de Guajará admitiu, em
reunião realizada com o MPF em 2017, que o atendimento não foi realizado como
planejado e as visitas à zona rural foram raras. Na mesma reunião, o MPF
solicitou a apresentação de um novo cronograma de visitas, o que não foi
cumprido, levando o órgão a ajuizar a ação civil pública perante a Justiça
Federal.
MPF na Comunidade – O município
de Guajará foi um dos 17 municípios amazonenses a receber a visita do projeto
MPF na Comunidade, iniciativa do MPF no Amazonas para promover a aproximação
entre a sociedade e a instituição, para colher demandas relacionadas às áreas
de atuação do MPF, no interior do Estado.
O projeto é regulamentado pela
Portaria PR/AM nº 49, de 7 de maio de 2013, e foi institucionalizado pelo MPF.
Em 2014, o projeto MPF na Comunidade recebeu reconhecimento nacional da
Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), durante a solenidade
de entrega do 2º Prêmio República de Valorização do Ministério Público Federal.
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