Ele
veio de uma transição do Hip-Hop, com a galera do skate. Inicialmente, JSA
(Jandeley Souza Andrade), galgou o rap underground, aos 15 anos, e incluiu em
suas letras a voz da periferia.
Ele
é Jander Manauara, happer, cuja presença é indispensável nos eventos artísticos
que movimentam hoje a cena de Manaus, do centro às periferias. Seus versos
falam diretamente aos manos e manas, aos que estão ao redor, aos que conhecem a
voz das ruas.
Olha os “caboco”
de casaco na quentura. Vai vendo!
Mas no fim do
escadarão, ainda está chovendo...
A
música está no sangue, o avô era do Chorinho. Nascido no Paraná do Periquito,
em Manacapuru, município incorporado à região metropolitana de Manaus, cresceu
ouvindo Racionais, um dos mais influentes grupos de rap brasileiro.
“Já
tinha um inchaço da ideia, com pessoas fazendo som, sem conseguir furar a bolha”,
diz. “A internet deu qualidade à produção. As pessoas passaram a reter o que é
bom. A diferença foi entender algo que emburra os movimentos: não dá para
fugir da nossa realidade”.
Ele
diz que não sabia que sabia escrever, mas compõe desde 1999. Fã de GOG (Genival
Oliveira Gonçalves), que tem raízes nordestinas, inspira-se na batalha de break
para as suas performances coreográficas e cria uma linguagem diferenciada.
O Nunes Filho
continua deitado na rede
O Homem-Aranha
manauara sobe nas paredes...
Autor
de dois trabalhos gravados, “Não valho 1 real” e “Grelhante”, sobre este último
explica que é uma gíria LGBT, que tem como proposta quebrar ideias
preconcebidas, machistas. Chama atenção para a união dos artistas, pois ignorar
os companheiros com suas artes atrasa suas produções e discursos.
O
movimento artístico em Manaus está em franca ebulição. Os espaços públicos vêm sendo
ocupados pelos artistas que são prestigiados pelo público, mesmo sem apoio dos
órgãos oficiais. Isso tem sido observado por muitas pessoas. Jander acredita
numa mudança substancial.
“O
que quebra as nossas pernas, é o isolamento, a distância geográfica. Mas se
pensarmos na questão da cidade, ela se sustenta culturalmente. Existe aqui uma diversidade
de produção, capaz de fomentar uma cadeia cultural bem-sucedida. Nem nos damos
conta, mas atrás da zona leste, tem outra zona leste, e uma não é igual à outra”,
revela.
“Sou
um observador social. Se a gente se enxergar, a gente pode ter uma cena
brilhante. Todos vão olhar para a gente. Vão enlouquecer para ver Nakamura,
ouvir Tucumanus, tudo o que a gente está produzindo aqui”, observa.
“Vamos
chamar todo mundo! Os artistas que fazem as produções e permanecem invisíveis.
Tudo será mais rico e encorpado; o discurso, mais aprofundado. A gente está tão
perto de mudar tudo isso”, finaliza.
Texto: Regina Melo
Fotos: Waldemir Cria
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