segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Existem outros mundos dentro da cidade

Ele veio de uma transição do Hip-Hop, com a galera do skate. Inicialmente, JSA (Jandeley Souza Andrade), galgou o rap underground, aos 15 anos, e incluiu em suas letras a voz da periferia.



Ele é Jander Manauara, happer, cuja presença é indispensável nos eventos artísticos que movimentam hoje a cena de Manaus, do centro às periferias. Seus versos falam diretamente aos manos e manas, aos que estão ao redor, aos que conhecem a voz das ruas.


Olha os “caboco” de casaco na quentura. Vai vendo!
Mas no fim do escadarão, ainda está chovendo...


A música está no sangue, o avô era do Chorinho. Nascido no Paraná do Periquito, em Manacapuru, município incorporado à região metropolitana de Manaus, cresceu ouvindo Racionais, um dos mais influentes grupos de rap  brasileiro.

“Já tinha um inchaço da ideia, com pessoas fazendo som, sem conseguir furar a bolha”, diz. “A internet deu qualidade à produção. As pessoas passaram a reter o que é bom. A diferença foi entender algo que emburra os movimentos: não dá para fugir da nossa realidade”.




Ele diz que não sabia que sabia escrever, mas compõe desde 1999. Fã de GOG (Genival Oliveira Gonçalves), que tem raízes nordestinas, inspira-se na batalha de break para as suas performances coreográficas e cria uma linguagem diferenciada.


O Nunes Filho continua deitado na rede
O Homem-Aranha manauara sobe nas paredes...


Autor de dois trabalhos gravados, “Não valho 1 real” e “Grelhante”, sobre este último explica que é uma gíria LGBT, que tem como proposta quebrar ideias preconcebidas, machistas. Chama atenção para a união dos artistas, pois ignorar os companheiros com suas artes atrasa suas produções e discursos.

O movimento artístico em Manaus está em franca ebulição. Os espaços públicos vêm sendo ocupados pelos artistas que são prestigiados pelo público, mesmo sem apoio dos órgãos oficiais. Isso tem sido observado por muitas pessoas. Jander acredita numa mudança substancial.





“O que quebra as nossas pernas, é o isolamento, a distância geográfica. Mas se pensarmos na questão da cidade, ela se sustenta culturalmente. Existe aqui uma diversidade de produção, capaz de fomentar uma cadeia cultural bem-sucedida. Nem nos damos conta, mas atrás da zona leste, tem outra zona leste, e uma não é igual à outra”, revela.

“Sou um observador social. Se a gente se enxergar, a gente pode ter uma cena brilhante. Todos vão olhar para a gente. Vão enlouquecer para ver Nakamura, ouvir Tucumanus, tudo o que a gente está produzindo aqui”, observa.


“Vamos chamar todo mundo! Os artistas que fazem as produções e permanecem invisíveis. Tudo será mais rico e encorpado; o discurso, mais aprofundado. A gente está tão perto de mudar tudo isso”, finaliza.

Texto: Regina Melo
Fotos: Waldemir Cria

Nenhum comentário:

Postar um comentário