Ação coordenada do Ministério Público Federal (MPF) identificou 1.262 áreas de
desmatamento ilegal na Amazônia com mais de 60 hectares de extensão cada,
registradas por monitoramento de satélite realizado entre agosto de 2015 e
julho de 2016. No Amazonas, o projeto mapeou 258 áreas, totalizando 33.276,91
hectares, além de identificar 182 responsáveis por grandes desmatamentos. Só no
Estado, o MPF já apresentou 258 ações civis públicas à Justiça para punir esses
desmatadores.
Por meio de cruzamento com bancos
de dados públicos, 1.155 pessoas e/ou empresas foram relacionadas aos grandes
desmatamentos na região amazônica. Ao todo, os polígonos mapeados somam 176.761
hectares de corte raso ilegal de vegetação na floresta. Até o momento, o
trabalho coordenado do MPF já resultou na instauração de 757 ações civis
públicas, contra 725 réus.
Os dados foram divulgados na
terça (21), no lançamento do projeto Amazônia Protege, desenvolvido pela Câmara
de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF (4CCR) em parceria com o ICMBio e
com o Ibama. Os laudos periciais comprovando o desmatamento ilegal e a lista
das pessoas e empresas relacionadas às áreas foram enviados aos procuradores da
República de 24 unidades do MPF em oito estados da Amazônia Legal (Acre,
Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), para
instauração de ações civis públicas.
Até agora, em todos os estados,
as ações já instauradas pedem de R$ 1,5 bilhão em indenizações por danos
materiais e morais difusos, além da reparação de 95.679 hectares de floresta
degradados. A estimativa é que, ao final da ação coordenada, os valores
solicitados para ressarcimento dos danos ambientais cheguem a R$ 2,8 bilhões de
reais. No Amazonas, já são mais de 33,2 mil hectares alvo de ACP, e os 182 réus
podem ser condenados a pagar indenizações que ultrapassam R$ 536 milhões.
Dos polígonos de desmatamento
ilegal com mais de 60 hectares de extensão identificados pelo projeto, 31 estão
dentro de unidades de conservação federais e 13 dentro de terras indígenas.
Além disso, há 689 áreas de desmatamento a menos de 30 quilômetros de UC
federal e 479 a menos de 30 quilômetros de terra indígena. São 672 polígonos
situados em gleba federal e 450 já alvos de embargo do Ibama. O estado com
maior número de grandes desmatamentos é o Pará, com 404 áreas, seguido pelo
Mato Grosso (326), Amazonas (258) e Rondônia (225).
As informações sobre as áreas
identificadas como desmatamento ilegal e sobre as ações civis públicas já
instauradas pelo MPF estão disponíveis no site www.amazoniaprotege.mpf.mp.br.
A ferramenta sistematiza e facilita a consulta de dados públicos das ações
disponíveis no portal da Justiça Federal, permitindo a pesquisa por coordenada
geográfica do local, por CPF ou CNPJ dos responsáveis ou pelo número da ACP. O
objetivo é evitar a regularização fundiária de áreas com remoção ilegal de
vegetação e estimular que compradores de terras e de produtos oriundos da
Amazônia (carne e grãos, por exemplo) deixem de alimentar cadeias produtivas
predatórias. Além disso, ao identificar as áreas pelas coordenadas geográficas,
o projeto contorna um problema comum do combate ao desmatamento atual: o uso de
“laranjas” para evitar a responsabilização civil dos reais infratores e
beneficiários do desmatamento.
As ações judiciais
Nas 757 ações judiciais já
instauradas, o MPF pede indenizações relativas aos danos materiais e morais
difusos derivados da remoção da cobertura vegetal; recomposição da área
degradada, mediante a sua não utilização para permitir a regeneração natural da
floresta; reversão dos valores da condenação para Ibama e ICMBio, para
fortalecer a fiscalização; autorização judicial para apreensão, retirada e/ou
destruição, pelos órgãos de fiscalização competentes, de bens móveis ou imóveis
presentes na área que estejam impedindo a regeneração da floresta.
“O Amazônia Protege busca
promover a responsabilização civil dos infratores de forma a reduzir a sensação
de impunidade e condescendência com as práticas que atentam contra o meio
ambiente que impera hoje no Brasil”, afirma o subprocurador-geral da República
Nívio de Freitas, coordenador da 4CCR.
O levantamento realizado pelo MPF
teve como base as imagens de satélite geradas pelo Projeto de Monitoramento do
Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes/Inpe), referentes ao ciclo de agosto
de 2015 a julho de 2016 (dado mais recente disponível no início do projeto). As
imagens foram analisadas por peritos do MPF e do Ibama, para comprovar o
desmatamento irregular. As bases de dados utilizadas para identificar os
possíveis responsáveis ou beneficiários das condutas ilegais foram o Cadastro
Ambiental Rural (CAR); Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) do Incra; Sistema
Nacional de Certificação de Imóveis Rurais do Incra; Programa Terra Legal;
autos de infração ou embargos do Ibama.
Nessa primeira etapa, o Amazônia
Protege analisou os polígonos de desmatamento com 60 hectares ou mais. “A
expectativa é que, a cada novo ciclo de monitoramento por satélite divulgado,
novas ações sejam instauradas, para áreas cada vez menores, para ampliar a
proteção ambiental na região”, explica o procurador da República Daniel
Azeredo, coordenador nacional do projeto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário