Governo do Amazonas e prefeituras de Carauari, Juruá, Borba e Autazes também devem prestar informações sobre projetos e atividades que envolvam o tema
O Ministério Público Federal
(MPF) no Amazonas recomendou às Prefeituras de Borba e de Autazes, à empresa
irlandesa Celestial Green Ventures (Go Balance) e à ONG Iakira que suspendam
imediatamente os contratos que envolvam projetos com Redução de Emissões do
Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) e créditos de carbono, bem como
qualquer atividade e ato relativo ao tema.
A recomendação pede a suspensão dos contratos até que
eles sejam apresentados acompanhados de prestação de contas sobre a execução
das ações previstas, com demonstração dos eventuais benefícios direcionados às
comunidades afetadas, além da localização dessas comunidades e demais
informações pertinentes. Os entes devem também realizar consulta livre, prévia
e informada, conforme estabelece a Convenção nº 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), às comunidades indígenas e populações
tradicionais potencialmente afetadas pela atividade e outras populações
eventualmente atingidas.
O município de Borba (a 151
quilômetros de Manaus) possui um projeto REDD+ em andamento chamado Trocano
Araretama. A iniciativa é desenvolvida pelo Celestial Green Ventures (Go
Balance), em parceria com a Prefeitura de Borba e a ONG Iakira, que é baseada
no município, por meio do financiamento do projeto.
No entanto, de acordo com
informações prestadas ao MPF pelo prefeito de Borba, Simão Peixoto Lima, o
município desconhece os termos do contrato, bem como qualquer benefício em prol
das comunidades ribeirinhas que fariam parte do projeto e sobre prestações de
contas ou esclarecimentos sobre os contratos firmados e seus resultados.
Além da falta de clareza no
contrato, há ocorrência de denúncias anteriores do Instituto Amazônia Livre
(IAL) relatando diversos descumprimentos pela empresa Celestial Green Ventures
(Go Balance) quanto às condicionantes do projeto, resultando em violações às
propostas de compensação e redução.
Tendo em vista os indícios de
irregularidades, o MPF também requer que haja autorização e acompanhamento dos
órgãos nacionais competentes em eventuais novos contratos, inclusive com a
participação do MPF.
A recomendação ressalta que a
gestão irregular destes contratos pode gerar impactos negativos em comunidades
tradicionais e indígenas, limitando áreas de uso, costumes e tradições;
corroborar falsas expectativas de redução de carbono e a degradação ambiental
no planeta, desestimulando medidas diretas de redução por empresas, em face da
possibilidade de adquirir créditos por tais meios; e ilusão de consumidores
quanto ao caráter de sustentabilidade de empresas que utilizam tais meios para
redução do impacto ambiental.
Pedidos
No documento, o MPF também requer
que o Governo do Estado do Amazonas e as prefeituras dos municípios amazonenses
de Autazes, Borba, Carauari e Juruá apresentem todo e qualquer contrato
envolvendo créditos de carbono, REDD+ ou ações semelhantes, bem como informe
quais as comunidades indígenas ou ribeirinhas afetadas. Também devem ser
apresentadas as respectivas prestações de contas.
A recomendação fixa o prazo de 10
dias, contados a partir do recebimento do documento, para que os entes informem
quanto ao acatamento ou não das medidas solicitadas, como também esclarecimento
sobre as ações adotadas e a respectiva documentação comprobatória.
O MPF encaminhou cópia da
recomendação para ciência e possíveis manifestações para o Comitê
Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação Nacional do Índio
(Funai), Defensoria Pública da União (DPU), Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Comissão do Meio Ambiente da Assembleia
Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), 6ª Câmara de Coordenação e Revisão
do MPF, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), entre outras
instituições.
Incentivo financeiro – A
REDD+ é um incentivo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima para recompensar financeiramente países em
desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito
estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal, considerando o
papel da conservação e aumento de estoques de carbono florestal e manejo
sustentável de florestas. O conjunto de medidas visam não somente a redução de
desmatamento e degradação, mas também o fortalecimento da conservação e a
gestão sustentável das florestas.
Já o crédito de carbono é o
mecanismo que permite aos países em desenvolvimento, negociar, no mercado
internacional, certificados referentes a cada tonelada de CO2 reduzida ou
removida da atmosfera. As nações que não conseguirem (ou não desejarem) reduzir
suas emissões poderão comprar os certificados em países em desenvolvimento e
usá-los para cumprir suas obrigações.
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