Apresentador
de TV no AM é alvo de ação do MPF por tráfico de influência
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Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas denunciou o jornalista e
apresentador de TV Waisser Botelho Barrozo e os empresários Mouhamad Moustafa e
Priscila Marcolino Coutinho pelo crime de tráfico de influência. De acordo com
a denúncia, o jornalista recebeu de Mouhamad, com a
participação de Priscila, mais de R$ 600 mil em propina, paga com dinheiro
público, para favorecer o esquema e viabilizar a contratação, em 2013, da
empresa Total Saúde Serviços Médicos e Enfermagem LTDA. para a prestação de
serviços junto à Fundação de Medicina Tropical (FMT).
A
participação de Waisser Botelho no esquema de corrupção veio à tona com a
deflagração da operação Custo Político, em dezembro de 2017, desdobramento da
operação Maus Caminhos. Entre julho de 2013 a agosto de 2016, segundo o MPF, o
apresentador recebeu de Mouhamad, em trinta e oito situações distintas, o valor
de R$ 615.600,00, em parcelas mensais de R$ 16,2 mil. A quantia correspondia,
aproximadamente, a 5% do valor mensal do contrato mantido pela empresa Total
Saúde junto à FMT, de R$ 324.621,26.
As
investigações do caso mostraram que Mouhamad não entregava a propina mensal
diretamente a Waisser Botelho Barroso, mas delegava essa tarefa a empregados da
empresa Salvare, que, inclusive, mencionam em seus depoimentos perante a
Polícia Federal a entrega de valores, pessoalmente, ao denunciado.
Na
denúncia, o MPF ressalta que Waisser Botelho é jornalista e apresentador de
programa televisivo há muitos anos, em Manaus, com grande trânsito político
entre autoridades locais, em especial o ex-governador do Amazonas e hoje
senador Omar Aziz, governador à época dos fatos. As investigações mostraram
que, por ocupar tal influência, era peça estratégica para a organização
criminosa liderada por Mouhamad, ao garantir tratamento privilegiado não apenas
com o ex-governador, mas também de agentes públicos estaduais ligados à saúde
e, assim, obter informações privilegiadas, contratações emergenciais e até
mesmo vantagens ilícitas em licitações e contratos.
Na
ação penal, o MPF pede a condenação dos denunciados pela prática de tráfico de
influência, crime previsto no artigo 332 do Código Penal, com agravante de ter
sido cometido de forma continuada, o que pode resultar em penas superiores a
cinco anos de prisão. O MPF pede ainda a condenação do trio à reparação dos
danos causados, com a devolução aos cofres públicos de R$ 615.600,00,
corrigidos monetariamente até a data do efetivo pagamento.
A
ação penal tramita na 4ª Vara Federal e aguarda recebimento da Justiça.
Operação Maus Caminhos – Em 2016, a Operação Maus Caminhos desarticulou um grupo que
desviava recursos públicos por meio de contratos firmados com o governo do
estado para a gestão de três unidades de saúde em Manaus, Rio Preto da Eva e
Tabatinga, feita pelo Instituto Novos Caminhos (INC), instituição qualificada
como organização social.
As
investigações que deram origem à operação demonstraram que dos quase R$ 900
milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) ao
Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados ao
INC. A apuração indicou o desvio de R$ 50 milhões em recursos públicos, além de
pagamentos a fornecedores sem contraprestação ou por serviços e produtos
superfaturados, movimentação de grande volume de recursos via saques em espécie
e lavagem de dinheiro pelos líderes da organização criminosa.
Mais
de 40 ações penais resultantes da operação Maus Caminhos já foram ajuizadas
pelo MPF na Justiça Federal, algumas já com condenações judiciais. As penas,
somadas, totalizam mais de 36 anos.
As
operações Custo Político e Estado de Emergência, que são desdobramentos da Maus
Caminhos, mostraram, ainda, o envolvimento de agentes públicos e políticos da
alta cúpula do Executivo estadual, entre eles o ex-governador José Melo, em um
esquema de propina criado para acobertar e colaborar com os desvios feitos pelo
grupo que geria as unidades de saúde, liderado pelo médico Mouhamad Moustafa.
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