O governador do Amazonas e pré-candidato à
reeleição, Amazonino Mendes (PDT), e o secretário de Produção Rural do Amazonas
(Sepror), José Aparecido dos Santos, foram processados pelo Ministério Público
Eleitoral (MP Eleitoral) por conduta vedada a agentes públicos, perante a
Justiça Eleitoral. Na representação,
o órgão requer a suspensão imediata de qualquer distribuição de bens, valores e
benefícios em desacordo com a legislação e pede aplicação de multas de R$ 106.4
mil a Amazonino e R$ 5.320,50 a José Aparecido, por fazerem uso promocional da
entrega de equipamentos agrícolas a produtores rurais do Estado.
A representação destaca que, apesar de notificado
previamente pelo MP Eleitoral de que legislação eleitoral proíbe a distribuição
gratuita de bens, valores ou benefícios pela Administração Pública em anos
eleitorais, o Governo do Amazonas promoveu evento público para divulgar a
distribuição de equipamentos e insumos agrícolas que teriam sido adquiridos por
meio do programa Terra Produtiva, e apresentar o material, pelo próprio
governador, para serem fotografados pela imprensa, no Centro de Convenções
Vasco Vasques, zona Centro-Oeste de Manaus.
Para o MP Eleitoral, houve claro uso promocional da
distribuição de equipamentos agrícolas em favor de Amazonino Mendes, à época já
notório pré-candidato à reeleição. Como parte da apuração, o MP Eleitoral
identificou, nas redes sociais de Amazonino Mendes, um vídeo no qual mostra um
enorme volume de bens. Na gravação, o próprio pré-candidato à reeleição afirma
que “são mais de 70 mil itens”, os quais seriam distribuídos à população do
interior, no que chamou de reedição do programa “Terceiro Ciclo”.
Antes da data anunciada pelo Governo do Amazonas
para distribuição dos bens – a partir do dia 4 de julho deste ano – o MP
Eleitoral apresentou ação cautelar à Justiça para apreender os equipamentos e
evitar maior impacto da distribuição irregular de bens no processo político já
em andamento, o que foi acatado. Ao todo, foram apreendidos pouco mais de 11
mil itens, dentre os quais estavam implementos agrícolas, tratores, geradores,
motores rabeta, kits casa de farinha e kits pescador. Em razão da medida
cautelar, o processo tramitava em segredo de Justiça. Passada a apreensão e
agora apresentada a representação por conduta vedada, o sigilo foi retirado
nesta terça-feira (14) por decisão judicial, a pedido do MP Eleitoral.
A ação tramita no Tribunal Regional Eleitoral do
Amazonas (TRE-AM), sob o número 0600124-84.2018.6.04.0000, e aguarda
decisão do juiz relator.
Incremento abusivo – Para o MP Eleitoral, o caso
não se enquadra nas exceções previstas em lei para autorizar a doação de bens
em ano de eleições, como alegou a defesa no processo. A Lei das Eleições (Lei
nº 9.504/97) inclui como exceção apenas casos de calamidade pública, de estado de
emergência ou de programas sociais autorizados por meio de lei específica e já
em execução orçamentária no exercício anterior.
Na representação, o órgão destaca que, apesar de o
programa Terra Produtiva integrar o conjunto de políticas públicas do governo
no período de 2016 a 2019 e possuir dotação orçamentária, trata-se de uma
previsão genérica, que não atende aos requisitos que autorizariam o
enquadramento nas situações de exceção indicadas pela legislação. Seria
necessária a autorização para o programa Terra Produtiva por meio de lei
específica, o que não existe no caso, configurando – por si só – conduta vedada
prevista no artigo 73, parágrafo 10 da Lei nº 9.504/97.
Além disso, o MP Eleitoral aponta à Justiça o
incremento abusivo do programa Terra Produtiva em ano eleitoral. “Observa-se,
portanto, que em 2016 foram gastos R$ 26.333.557,13, valor que aumentou
ligeiramente no ano de 2017, passando à cifra de R$ 28.784.998,38. No entanto,
neste ano eleitoral, nas palavras do próprio Governador do Estado, o
investimento seria de cerca de R$85.000.000,00, representando quase o triplo do
valor gasto no ano imediatamente anterior”, destaca trecho da representação.
Radar Eleições 2018 – A íntegra da representação
está disponível para consulta na página Radar
Eleições 2018, disponibilizada no site do MPF no Amazonas para o
acompanhamento sistemático das principais movimentações de processos eleitorais
apresentados pelo órgão à Justiça Eleitoral, referentes a irregularidades e a
crimes cometidos durante as Eleições 2018. A página foi apresentada durante o
‘Workshop MPF nas Eleições 2018’, realizado na semana passada.
Por meio da página, qualquer pessoa pode ter acesso
a informações que permitirão consultar o andamento das ações e representações
junto ao TRE/AM. A cada novidade, a página exibe – por ordem decrescente de
datas – informações sobre o caso, como: o número para consulta no sistema de
processo judicial eletrônico, um resumo do caso, as pessoas envolvidas e os
links para download dos documentos.
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